O mundo da finança é aquele que, atualmente, mais tem enveredado esforços para integrar IA nos seus sistemas. Desde a prevenção de fraude (onde existe uma empresa portuguesa especialista, a Feedzai) à avaliação de risco. Mais tarde, a ideia é pôr a máquina a interagir com o cliente. Ficção? Não. Bem pelo contrário. É no Brasil que os bancos estão mais entusiasmados com esta ideia. O Bradesco, a maior instituição financeira daquele país, já adotou o Watson, da IBM, um sistema computadorizado cognitivo, usado para o mundo dos negócios, que permite a interação entre pessoas e computadores. No início deste ano, a administração do banco anunciou que planeia usar o Watson para interagir diretamente com os seus clientes em tarefas como transferências, pagamentos, consultas. Medida que poderá acabar com muitos empregos de balcão e de call center.
Grandes consultoras mundiais, como a EY, a PWC ou a Deloitte, estão a usar a IA para substituir processos que, até há pouco tempo, eram realizados apenas pelos humanos, como serviços de consultoria estratégica, aconselhamento fiscal ou auditoria. E a capacidade de digerir informação é muito superior à dos humanos. Significa isto que a Inteligência Artificial veio para nos ajudar ou para nos tirar os empregos?
"Essa é a questão que mais me preocupa. Sobretudo os empregado relacionados com as atividades cognitivas que atualmente são feitas pelas pessoas. Assim que conseguirmos pôr as máquinas a fazer esses trabalhos, muito emprego tornar-se-á economicamente inviável", salienta Blaise Aguera y Arcas, um dos mais prestigiados engenheiros de informática dos EUA, considerado em 2008 pelo MIT como uma das 35 pessoas com menos de 36 anos mais inovadoras do mundo.
Em conversa com a VISÃO, a partir de Silicon Valley, na Califórnia, Blaise Aguera y Arcas acrescenta que "com esta mudança podemos criar riqueza, mas essa tem de ser distribuída, caso contrário arriscamo-nos a criar desemprego maciço em muitas regiões e a concentrar riqueza em muito poucos. E já estamos a ver esses efeitos", afirmou o cientista, que já participou várias vezes nas conferências Ted Talks - uma das quais com mais de 5 milhões de visualizações e uma das favoritas de Bill Gates (atualmente lidera o programa de Inteligência Artificial da Google).
Uma preocupação que é partilhada por outros. "À medida que a Inteligência Artificial ultrapassa os humanos em cada vez mais e mais capacidades, é provável que os venha a substituir em mais e mais empregos. É verdade que outras profissões poderão aparecer, mas isso não resolverá o problema", defende Yuval Noah Harari, professor de História da Universidade de Jerusalém e autor dos best-sellers Sapiens - uma Breve História da Humanidade e Homo Deus - Uma Breve História do Futuro.
Para este historiador, a biotecnologia e o crescimento da IA poderá dividir a espécie humana numa pequena classe social dos super-humanos e uma enorme dos que não têm utilidade. E assim que as massas percam o seu poder econômico e político, os níveis de desigualdade poderão crescer de forma alarmante.
"Os humanos têm praticamente duas habilidades - física e cognitiva -, e se os computadores forem capazes de fazê-las melhor que nós, poderão também substituir-nos nos novos empregos que serão criados. E milhões de pessoas poderão ficar sem trabalho. Assistiremos ao nascimento de uma nova classe social: a classe dos que não têm qualquer utilidade", avisa Yuval Noah Harari.
Um estudo recente, da consultora McKinsey, mostra que 30% das tarefas de 60% das profissões podem ser substituídas por computadores que utilizem IA. O economista chefe do Banco de Inglaterra foi mais longe e admitiu que 80 milhões de postos de trabalho, nos EUA, e 15 milhões, no Reino Unido, poderiam ser ocupados por robôs.
Outro estudo, denominado o Futuro do Emprego, fez um relatório sobre as profissões que estão mais em risco com a massificação da IA. Os profissionais de telemarketing são os que estão mais em risco, pois 99% das tarefas que agora desempenham podem ser automatizadas. O mesmo acontece com os bancários, sobretudo os que trabalham nos empréstimos e os que estão nas caixas. Este estudo refere que 98% das suas tarefas, no caso dos primeiros, e 97%, no caso dos segundos, poderão ser executadas por IA. Em risco estão ainda os que se dedicam ao aconselhamento legal, os taxistas e os cozinheiros de fast food.