Jornal O Globo de 16-07-1973
MONTESSORI, O MÉTODO DO FUTURO
Está sendo realizado o I Curso Intensivo da Guanabara sobre a Dinâmica do Método Montessoriano (educação de crianças de um a seis anos e meio), promovido pela Organização Brasileira de Atividades Pedagógicas e que durará até o dia 20 deste mês. Para os educadores, trata-se de uma iniciativa da maior importância porque, numa escola Montessori, o trabalho das crianças desenrola-se como a vida, guiado por um ritmo interior. Também a configuração e o desenvolvimento do método montessoriano foram fornecidos pela vida, de acordo com seu desenrolar-se às custas do ambiente. Sua criadora, Maria Montessori, definiu-o como o "primeiro trabalho na sociedade humana guiado pela criança".
Atualmente, na Guanabara existem apenas quatro escola de aplicação do método Montessori: "Constructor Sui", "Casa Mater", Constructor Sui-Caiçaras", Jardim Musical". Em Belo Horizonte, há a escola "Criança Feliz".
Experiência real
Denominado de método do futuro, o Montessori surgiu no século XX, partindo de uma experiência real com crianças. Montessori, médica que já havia trabalhado com excepcionais, foi chamada a dirigir uma escola no bairro popular de São Lourenço, Roma.
O estabelecimento não possuía ambiente propício acolhedor, nem material especializado. As crianças sentavam-se em altos bancos, apoiavam-se em pesadas mesas e pouco ou nada tinham para fazer. Montessori resolveu introduzir alguns materiais que havia usado, com base em estudos de Itard e Séguin, tendo sempre em vista a pesquisa e a observação.
Tudo se encaminhou de tal maneira que, dentro em pouco, as crianças, todos de meio social inferior, haviam-se organizado numa comunidade livre, mostrando suas exigências naturais, que até então o adulto não havia permitido. A "nova criança" surge em ambiente claro, calmo, com cadeiras e mesas pequenas, e no qual ela pode escolher sua atividade, desenvolver seu raciocínio e personalidade.
Em 1909, Montessori publicou um livro, "Método da Pedagogia Científica", que causou grande impacto aos educadores da época. O mundo adulto jamais havia dado grande importância à criança como dona de si mesma, embrião espiritual que vai transformar-se no homem de amanhã, responsável por seus atos, feliz e ajustado socialmente.
Depois disso, a médica passou a dedicar toda a sus vida a estudos, pesquisas, conferências, provando, com argumentos sérios e irrefutáveis, que a criança é o elemento principal da humanidade, pois garante o futuro, sendo elo entre gerações, transmitindo linguagem, costumes e tradições.
Atividade adequada
O método Montessori parte da compreensão da criança e de sua personalidade. "Ela só pode desenvolver-se quando o ambiente em que vive permite, dando-lhe calma, tranquilidade emocional, propiciando-lhe atividade adequada para cada fase de desenvolvimento que atravessa".
Quem fala assim é a professora Talita Bandeira de Mello, diretora da Casa-Escola Montessoriana, "Constructor-Sui" onde 300 crianças, em idade compreendida entre um e onze anos (maternal até a 5 série do primeiro grau), estudam sob essa orientação.
Ela acrescenta: Para isto o adulto precisa atender a uma série de princípios: amar a criança com profundidade e certeza de sua missão no mundo; conhecer bem as etapas evolutivas que o ser humano atravessa, para comprendê-lo e ajuda-lo em todo os momentos de sua vida; propiciar-lhe, desde o seu nascimento, um ambiente acolhedor, em que desde cedo assuma as responsabilidades de cada idade e cresça com amor e compreensão. Finalmente, o adulto precisa abdicar um pouco de sua atitude dominadora e prepotente, e enquadrar-se na imagem da pessoa em quem a criança encontra a ajuda, que lhe transmite segurança, estabilidade, valores morais, sociais. O adulto e o ambiente que cerca a criança serão os elementos dos quais ela absorverá suas primeiras sensações, tirará conclusões, e compreenderá a vida.